Quem se prepara para uma viagem à Austrália geralmente inclui a Nova Zelândia por praticidade ou medo de perder uma oportunidade única – o que é compreensível, realmente a viagem é um sacrifício: atravessar o mundo em uma das rotas mais longas possíveis, sem contar todo o investimento que ela requer, resulta em uma vontade louca de poupar esforços e fazer tudo de uma vez.
E essa é a principal dica de hoje: sai dessa, Nova Zelândia e Austrália não são experiências complementares. Estamos falando de mundos completamente diferentes que por um acaso tectônico ficaram tentadoramente próximos, mas com um incrível abismo cultural entre eles.
Cheguei em Auckland, na Nova Zelândia!
Meu primeiro susto foi perceber que a imigração neozelandesa em Auckland é praticamente inexistente, pelo menos com um voo vindo de Brisbane: fui muito bem recebido, passei por um processo imigratório bem discreto, além do aeroporto funcionar como um ótimo abre-alas.
Não precisei de muito tempo para descobrir que Auckland não é uma cidade plana, pelo contrário, prepare as panturrilhas, você irá precisar delas: apesar de ser um choque para quem vem da majoritariamente plana Austrália, basta lembrar que a Nova Zelândia é o resultado de separações tectônicas e erupções vulcânicas que tudo passa a fazer sentido.
Também não precisei de muito tempo para perceber que o povo neozelandês é completamente diferente do australiano, a começar pelos nativos: a cultura australiana segrega os aborígenes do homem branco de forma muito mais evidente, mas o neozelandês parece se orgulhar mais do seu passado ancestral. É inevitável cruzar com a cultura māori, mesmo que muitas vezes de forma escandalosamente turística.
Queen Street no início da manhã, por onde passa o prático Airbus Express
Passeando pelo porto de Auckland
Sei que muita gente discorda de mim, mas com a exceção de Surfers Paradise eu até então não tinha visto uma onda migratória tão grande como aquela: a Queen, a rua mais famosa do país, é assustadoramente chinesa!
Caminhe por ela até o fim para chegar em Waitematā Harbour, uma zona portuária que é muito melhor do que sugerem os guias: lembro o quanto gostei do porto de Barcelona, mas em número de atrações e restaurantes incríveis esse deixa qualquer outro no chinelo.
Pessoal brincando no parque Albert no intervalo das aulas da Universidade de Auckland…
…onde fica também a galeria de arte com entrada gratuita
Tirando a barriga da miséria em Auckland
Mandei muito melhor nos restaurantes de Auckland do que em qualquer outra cidade australiana em que estive: comi muito bem em festivais e feiras de rua, além de experimentar pratos deliciosos em restaurantes badalados, o que pelo menos justificava o preço cobrado, coisa que não acontecia em Sydney.
Tive a impressão de que a noite dos aucklanders é deliciosa para quem pode pagar por ela, uma boêmia restrita as mesmas pessoas de sempre, aquelas que sabem onde ir e o que pedir.
Não me senti confortável para entrar sozinho naqueles restaurantes incríveis de Takutai e Commerce Street, não senti que meu charme latino-americano seria bem-vindo ali – e por isso paqueras aleatórias ficarão para uma próxima viagem.
Praias e outros programinhas em Auckland
Nem sequer remotamente parecidas com as praias australianas, não conheci nenhuma que valesse a ida. Quem tem um amigo com iate pode aproveitar um pouco mais as manhãs de sol em Waiheke Island, mas para nós meros mortais não há nada que lembre qualquer pedacinho de areia e mar que encontramos aos montes no país ao lado.
Chegando no meu cantinho preferido: Silo Park
Passear pelas ilhas menores, sendo Waiheke a melhor de todas elas, foi o que fez valer a ida: as praias continuam horríveis, mas no geral são passeios bem agradáveis que valem o investimento de tempo, dinheiro e cartão de memória – foi o gostinho que tive do que seria desbravar a ilha sul.
Jamais irei me perdoar por não ter ido ao museu, que realmente parece ser incrível. O estrago só não foi maior porque tive a sorte de cruzar, por acaso, com uma apresentação de dança maori quando eu menos esperava: o que garanto ser uma experiência nada traumática; é culturalmente legítima e bem mais interessante do que você imagina, eu poderia passar a tarde toda ali sem me cansar.
Depois coloco aqui o que gravei, mas pesquise por maori dance e dê uma olhada nos vídeos que mostram os gritos de guerra do time nacional de rugby, não tem nada mais incrível do que isso.
Prainha de St Heliers na Tamaki Drive
Transporte público em Auckland
Usei muito pouco, quase nada. Mesmo tendo escolhido um hotel incrível no alto de um morro ainda assim caminhei todos os dias: usei ônibus apenas uma vez para atravessar a cidade e conhecer o maior festival de cultura e gastronomia das ilhas do Pacífico, o Pasifika, depois prometo que falamos sobre isso.
Bem, a experiência que tive foi ótima: ônibus bons, nunca lotados, mas cheios nos piores horários, é claro. Paguei usando moedas diretamente ao motorista, que me proibiu de descer junto com todos os outros porque jurava de pé junto que a melhor entrada para o festival não era aquela, mas a próxima.
E era.
O engraçado é que lá não existe uma linha de ônibus que vai nas duas direções: cada direção é uma linha diferente, e elas estão em função do lugar em que você as pega. Parece meio complicado, e realmente é, então faça como eu: pergunte sempre, mais de uma vez, ou use o planejador de viagens online.
No parque Cornwall subindo em direção ao One Tree Hill
Sei que existem três linhas turísticas que facilitam a vida de marinheiros de primeira viagem, sendo que a principal é a linha verde, ou inner city. Dizem que ela passa pelos pontos principais, como a famosa Parnell e outros lugares que eu deveria ter conhecido.
Sei que existem trens, mas não vi nenhum, não saberia dizer sequer se eles são subterrâneos ou não.
Despedi da Nova Zelândia visitando o paraíso: Waiheke Island, não deixe de conhecer!
Resumo da ópera
Nova Zelândia tem duas ilhas principais separadas pelo estreito de Cook, sendo que a ilha norte, onde estive, concentra mais de três terços da população.
Bem, ainda não conheço Wellington, a capital, e quero conhecer, mas, de maneira geral, já não faço questão de voltar a ilha norte, mas não vejo a hora de desbravar a ilha sul em uma viagem incrível onde tudo que farei é procurar por hobbits sem incluir nenhuma cidade australiana, nem mesmo de pitstop.
Nova Zelândia e Austrália não são experiências complementares, eu jamais deveria ter tirando um pedaço das minhas férias australianas para inserir, com a delicadeza de um fórceps, uma cidade neozelandesa que, na moral?, não me fez sentir estar na Nova Zelândia.
Outras dicas do blog para programar a sua viagem:
Já sabe onde ficar em Auckland? Todo mundo procura primeiro os arredores da Queen Street, mas eu prefiro os arredores do Britomart. Já fiquei no Pullman com cozinha completa e recomendo!
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Eu moro em Auckland há três anos e trabalho com turismo receptivo aqui, em parceria com operadoras de turismo organizando a viagem de turistas Sul-Americanos (principalmente brasileiros) na Oceania. Que interessante foi ler esse post e saber suas impressões, Thiago!
Acho que uma viagem a Austrália e Nova Zelândia podem sim se complementar muito bem se você tiver tempo suficiente para visitar os dois países – realmente não vejo como tirar alguns dias de suas férias na Austrália para dar um pulinho em Auckland acreditando que vá ter um gostinho do país possa funcionar, e imagino sua “frustração”. A Ilha Sul certamente tem paisagens muito mais impressionantes para nós brasileiros que a Ilha Norte, mas essa também tem seu charme e lugares interessantíssimos que valem a visita! De qualquer forma, sempre digo que vir à Nova Zelândia e não ir à Ilha Sul não faz sentido, e incentivo a todos que visitem as duas ilhas e se esbaldem em suas diferenças tanto nas paisagens, quanto no estilo de vida. Quanto às praias… Existem muitas que não impressionam, é verdade, mas outras tantas MUITO lindas! Se bem que se você não se impressionou muito com Waiheke, talvez o melhor mesmo seja desistir das praias de Auckland (não sem antes visitar um spot super secreto em Devonport com uma das praias mais bacanas da cidade, mas desconhecida por muitos) e visitar regiões como Coromandel, por exemplo, onde fica a praia mais linda que já visitei!
Enfim, volte pra NZ!! Volte com tempo e quem sabe dê mais uma chance à Ilha Norte – ela pode te impressionar!!
Abraços e parabéns pelo blog!!
Oi Carol, que bom ler a sua réplica, fiquei ainda mais entusiasmado com a ilha sul! E ainda tenho muito o que fazer na ilha norte, né? ;)
Olá Carol Sales! Estou indo para a NZ em novembro e gostaria muito de uma ajuda para me programar! Ficarei muitos dias e quero visitar as duas ilhas. Você teria um email para me enviar?
Obrigada!
E Thiago, agradeço seus posts, pois esperava mais de Auckland… Bom que deixo pouco tempo para conhecer.
Oi, Raquel
Pode mandar e-mail para carol_libras@yahoo.com.br, te ajudo no que for possível!
E Thiago, sim, com certeza há muito mais o que ver na Ilha Norte, e não deixe de visitar a Ilha Sul na sua próxima vinda à NZ :-)
Abraços
Particularmente acho Auckland a pior cidade da Nova Zelândia. Nem mesmo os neozelandeses gostam desta cidade. Se quiser conhecer as belezas deste maravilhoso país aventure-se ao interior do país. Prais lindas em Tauranga, Whangamata e Whitianga. Na ilha Sul jamais deixe de ir a Quennstown com toda sua variedade de esportes radicais, paisagens surreais e uma rota de vinhos, queijos e pratos como pato tostado e veado selvagem que não podem ser deixados de lado em seu roteiro. A NZ realmente é única.
Falou tudo Michel, essa é a impressão que ficou!