Meu nome é Thiago e hoje irei falar sobre mim.
Tudo bem, sei que sempre falo sobre mim. O que quero dizer é que não tenho a pretensão de que você coloque Orangevale em seu próximo roteiro, mas, agora, dirigindo por aqueles cantos de lá, você pode descobrir estar passando por ela: uma cidade no interior da Califórnia com pouco mais de 30 mil habitantes que um dia já foi minha.
Bem, essa história começa em janeiro de 1979, mas a maior parte das fotos abaixo são de meados de 2003 e outubro de 2011, sendo que o blogueiro que vos fala só deu o ar da graça em fevereiro de 1986, mês em que tudo mudou; até a moeda, que passou a se chamar Cruzado.
Minha mãe e Bonnie em 1979
Quando a caçula decidiu que faria algo de diferente naquele verão
Em janeiro de 1979 a filha mais nova da família Ferreira decidiu passar uma temporada na Califórnia. Em 1979 nenhum envelope atravessava o mar em menos de duas semanas: telefonemas custavam pequenas fortunas, remessas internacionais pegavam carona em cartas de envelope branco e fonte de informação era Barsa, uma enciclopédia em 20 volumes que ocupava metade da sala.
Bem, minha mãe foi recebida em El Dorado Hills, nos subúrbios de Sacramento, por uma típica família do interior da costa oeste americana no final na década de 1970: democratas de classe média, moravam em uma casa de dois andares com um ofurô no quintal, duas crianças e um dálmata.
Minha mãe passou um ano ali e criou uma nova família, ou mais um braço da família principal: voltou sempre que alguém da família daqui se prontificou a conhecer a família de lá, e eles vieram sempre que a situação pedia um encontro completo, como o casamento dos meus pais ou o maravilhoso 3 de fevereiro, também conhecido como meu nascimento.
Só depois criaram uma maravilha chamada Skype: o contato que acontecia de tempos em tempos passou a ser semanal. Cresci e entrei para a escola onde fiquei até que chegou a hora de virar jornalista – mas, antes disso, quando completei a idade que minha mãe tinha no início dessa história, o pessoal lá de casa decidiu que eu faria algo de diferente naquele verão.
California, here I go!
É agora que Orangevale entra na história. Parte do condado de Sacramento, Orangevale é uma cidade pequena bem próxima das famosas montanhas de Sierra Nevada.
Conheci Orangevale em minha primeira ida à Califórnia, aos 16 anos, a primeira viagem que fiz assustadoramente sozinho: cuidar do passaporte, passar pela imigração, fazer escala e conexão. Então é isso que os adultos fazem?
Bonnie, que morava com o seu segundo marido em El Dorado Hills, mudou para Orangevale quando se casou com Richard, o marido número três. Julie, a filha mais velha que passou uma temporada conosco no Brasil, agora pregava a palavra do Senhor em Los Angeles. Jenny, a caçula, estava morando com a mãe depois de se formar em Direito e não conseguir emprego.
Cheguei e fui logo descobrindo que ali não era lugar de vida mansa: ajudei a revestir a casa com tábuas de madeira, participei da construção da piscina, roubei laranjas do vizinho e aproveitei a rua tranquila para aprender a correr e passear com Skip, o terrier da orelha quebrada.
Não importa o que eu tivesse feito na noite anterior ou em que Richard e eu estivéssemos trabalhando, Bonnie sempre me acordava às sete com um “hello, sweetie” doce, quase cantarolado.
Na minha última semana de viagem Jenny estava em Napa participando de uma entrevista de emprego que poderia mudar a sua carreira e dar uma turbinada em sua autoestima. Minha companheira de compras, programinhas turísticos e tradutora de filmes sem legenda me abandonou logo na semana final de uma viagem reveladora: descobri cedo que viajar era a maior parte de mim.
Com a piscina quase pronta em 2003
Julie, Bonnie e Jenny em 2003
Skip da orelha quebrada em 2003
Bonnie e eu em San Francisco em 2003
Como Orangevale está ao leste de Sacramento, a possibilidade mais comum de passar por ela em uma viagem de carro é vindo de Lake Tahoe em direção a Napa e de lá para San Francisco.
Para fazer isso a dica é atravessar a Eldorado National Forest, um dos santuários ecológicos mais famosos do país: desça a US-50 e passe por El Dorado Hills, Folsom (a cidade das prisões, dos museus penitenciários, dos bandidos reabilitados…), pela charmosa Fair Oaks (da qual Orangevale é quintal) e, logo depois, Orangevale.
Depois é só seguir caminho e separar pelo menos mais dois dias de viagem: a caminho de Napa você ainda passa por Sacramento e Vacaville, a cidade de nome engraçado com um enorme Premium Outlet logo na entrada.
Não existem passeios turísticos, mas existem opções de compras nos arredores mais próximos. Orangevale é extremamente bucólica, muitas casas possuem estábulo ou mini-ranchos. No Halloween as ruas se transformam: o que não falta é teia de aranha e abóbora por todos os lados. Como as ruas perpendiculares são parcamente iluminadas, os meninos fantasiados atravessam os quarteirões segurando lanternas e arrastando correntes de plástico. É fantástico!
Essa é a casa pronta, oito anos depois, em 2011
Candy passeando pela piscina pronta em 2011
Eu chegando no conversível do Richard em 2011
Minha mãe, Richard e Bonnie caminhando em 2011
Sei que esse é um blog de viagens e que você dificilmente fará turismo em Orangevale, mas essa foi minha homenagem à cidade que me transformou em viajante: Orangevale funcionou como ponto de partida de uma vida cheia de grandes viagens! Não foi onde me apaixonei pelos Estados Unidos ou comecei a gostar de novos lugares, mas foi onde aprendi a voltar: não importa por quanto tempo ou com que frequência, mas, hoje, adoro voltar.
Quando minha mãe e eu decidimos, em outubro do ano passado, que passaríamos uma semana em Orangelvale, não precisamos de mais de dois dias para perceber que algumas coisas já não eram como antes: Julie teve mais um filho, Richard já não era tão jovem como eu lembrava e Jenny se tornou sócia do escritório que a contratou em Napa.
Skip tinha morrido, mas deixou Candy, a nova integrante da família. A casa tinha seu próprio pé de laranja e a piscina parecia menor do que antes. Bonnie continuava exatamente a mesma: um pouco mais velha, mas ainda sim com o seu “hello, sweetie” doce, quase cantarolado, todos os dias de manhã.
Para saber mais sobre Orangevale, acesse:
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Linda história e linda homenagem! Uma viagem realmente pode mudar uma vida! :)
Thiago, que linda homenagem a um momento tão bacana da sua vida e da sua mãe!
Eu fiz intercâmbio em 1994-95 na pequena Grand Rapids, Minnesota. E no ano passado finalmente voltei pra visitar a família americana – que agora mora toda em Minneapolis-St. Paul e arredores…
É uma sensação muito gostosa de voltar e ver que as pessoas mudam, mas no fundo continuam as mesmas, heheheh!
Que no fundo continuam as mesmas! Quem bom que gostou Alice!
amei seu texto e até deu vontade de dar uma passadinha em Orangevale. ;)
Que delícia você por aqui Claudia! Orangevale é um pulinho de Napa, quem sabe quando rolar um wine tasting na Califórnia?
Bom ler sobre um pouco da sua historia… isso parece aproximar nós, leitores, de você.
Bonito texto.
Obrigado Daniel, volte sempre, prometo outros relatos mais pessoais, menos turísticos! :)
Salve, Thiago!
Há tempos não parava para comentar os textos, apenas os havia lido nesses últimos tempos! Decidi retomar os comentários neste sobre Orangevale para dizer que curti demais o post. E do jeito que você conta a história e as peculiaridades do local, confesso que me deu vontade de conhecer a cidadezinha.
Mandou bem, novamente!
Abraços!
Obrigado Douglas! Tem presentinho chegando para você essa semana ai heim?