Tenho tanta coisa para contar que foi difícil escolher por onde começar, mas vou ficar com o mais inusitado: esse blogueiro que vos fala passou por uma experiência inédita na última viagem; fui encaminhado para a salinha da imigração em Miami.

Não sei se o lugar tem um nome mais apropriado do que esse, mas desde criança ouço as pessoas chamarem de “salinha”, e agora para efeito didático resolvi destrinchar um pouco mais e transformei em salinha da imigração.

A salinha é o lugar para onde encaminham todos que despertam desconfiança ao passar pelos agentes de imigração.

Imigração em Miami
Imigração em Miami

Olha, vou te dizer que parte de mim acreditava que eu jamais seria encaminhado para a salinha, até porque eu nunca fiquei no país por um tempo maior do que o permitido, nunca tive problemas com a polícia e sempre viajo com dinheiro, documentos e comprovantes em ordem.

Enfim, eu não faço parte do “grupo de risco”.

Grupo de risco my ass: para comemorar minha 16o entrada no país pelo aeroporto de Miami eu fui encaminhado para a salinha.

E olha que eu era responsável por um grupo de 39 passageiros, fui um dos primeiros a passar pelo agente de fronteira, mas fui o último a sair: ele pediu o passaporte, fez as perguntas que queria e carimbou com o mesmo carimbo de sempre.

Procurei depois por alguma marca especial, mas, não, nada que o diferenciasse de carimbos passados.

O que aconteceu de diferente ali é que depois da carimbada final ele se levantou e terminou todo o processo com um inédito “follow me”.

Fui parar numa sala de espera como outra qualquer, e é isso que a salinha é, uma sala de espera.

Ela é grande, devem caber umas cem pessoas ali dentro, todas sentadas de costas para os guichês onde os oficiais trabalham, todas tentando ficar tranquilas enquanto assistem tv e esperam ser chamadas uma a uma pelo nome.

Naquele primeiro momento do dia apenas um agente trabalhava enquanto 14 pessoas assistiam, sentadas, a primeira edição do noticiário da Fox como se ficar ali fosse a coisa mais comum do mundo.

O sujeito que me atendeu primeiro entregou o meu passaporte e formulários preenchidos para o sujeito que trabalhava ali e pediu que eu sentasse junto aos outros.

Eles conversaram por alguns segundos, mas não consegui entender o que diziam.

O que me acompanhou até lá saiu e depois de pouquíssimos minutos fui chamado pelo sujeito número dois:

– Thiago Khoury, por favor.

Levantei sem pressa e caminhei até ele.

– Bom dia.

– Bom dia, Thiago. Me pediram que eu te desse um VIP Pass porque souberam que você está acompanhando um grupo de 39 passageiros e eles precisam de você, certo?

Uai… É isso mesmo, produção? Estão me passando na frente dos outros treze? Quer dizer então que eu não vou perder a conexão? I’m in Miami Beeeeach, tumt tum-tum-tum…

– Eu queria que você não levasse isso para o lado pessoal, você foi escolhido aleatoriamente pelo sistema. Preciso só checar algumas informações e vou te acompanhar até o alfândega.

– Claro, mas tem alguma coisa que eu possa fazer para que isso não aconteça novamente? Essa não é a primeira vez que venho aos Estados Unidos, como você já deve saber, mas, será que isso pode continuar acontecendo?

– Provavelmente não. É só um procedimento de segurança.

Imigração em Miami
Imigração em Miami

Saímos e ele me levou até a alfândega.

Bem, na verdade não exatamente a alfândega de sempre, mas uma alfândega para barrados no baile, onde minha mala despachada e minha mala de mão foram inspecionadas por dois agentes também muito simpáticos, porém mais “interessados” no que eu dizia:

– E esse seu sobrenome, é iraquiano?

– Não, é libanês.

– Ah, então quer dizer que sua família é árabe?

– Não, quer dizer que os meus antepassados nasceram no Líbano.

Denúncia! Blogueiro é vítima de preconceito!

Caramba, será que foi isso?

Bem, isso serve para mostrar que a gente não tem controle de absolutamente nada que acontece e não existe nenhuma teoria comprovada: eles barram ou deixam passar que eles querem, da forma que querem, dando mais ou menos trabalho para, adivinha só, quem eles querem.

Se eu tivesse viajando por conta própria eu teria sido o 14o a ser atendido e provavelmente teria perdido a minha conexão.

Se isso tivesse acontecido eu teria que procurar a companhia aérea, explicar a situação e tentar resolver de alguma forma que não me prejudicasse muito.

Se eu fiquei nervoso?

Não, em momento algum. Uma parte meio mórbida de mim até gostou do que estava acontecendo, agora sei o que acontece depois do “follow me” na imigração de Miami.

Bem, é aquilo que eu disse: eu não tinha do que sentir medo, não tinha feito nada de errado.

E eles foram todos muito educados, só não deixaram de perguntar tudo que queriam, como se eu falava árabe, quantas vezes já tinha ido ao Líbano, onde meus pais moravam e quantas vezes aquilo já tinha me acontecido antes.

– Nunca, essa é a primeira vez.

– Jura?

Juro.

Leia o que já pintou por aqui sobre imigração.

Atualização: esse post foi publicado pela primeira vez em 2013, quando os passaportes ainda eram carimbados ao passar pela imigração nos Estados Unidos e dois formulários, que já não existem mais, precisavam ser entregues; um de imigração e um de alfândega.

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18 COMMENTS

  1. Minha amiga foi pra salinha do aeroporto de Houston. Era a primeira viagem dela aos EUA. Fizeram várias perguntas, abriram a mala, revistaram tudo, jogaram as coisa no chão… Mas no final ela entrou. Depois foi procurar um advogado de imigração porque pretendia extender a viagem, quando ela contou o que tinha acontecido ele pediu pra olhar o passaporte dela e disse: “Ah, tá explicado, você é mineira”. Parece que os mineiros tão na blacklist, dizem que maioria dos brasileiros ilegais nos EUA são de Minas.

  2. Fala Thiago, primeiramente parabéns pelo seu Portal, o conteúdo é rico e me divirto lendo suas grandes histórias ao redor dos lugares que viaja. Tenho uma dúvida simples com relação a Imigração dos EUA (entrada repetitiva). Frequento os EUA apenas a turismo/compras desde 2011. Tenho visto B1/B2 de 10 anos, e de lá pra cá, já viajei 5 vezes. Com minha irmã, sozinho, cunhado, amigos. Já passei pelo Guiche sozinho, acompanhado etc … nunca tive problemas ou fui pra Salinha.

    Porém esse ano, eu comprei 4 passagens para Miami. Maio, Outubro, Novembro e Dezembro. Vou apenas para Turismo/Compras (não sou muambeiro), porém desde Maio estou “envolvido” com uma americana. Dai as minhas várias idas para os EUA.

    Até Outubro entrei sem problemas algum, respondi as perguntas numa boa, e Miami Here I’m! Mas o período de retorno de Novembro e Dezembro serão de apenas 20 e 25 dias respectivamente. Você tem experiência, ou pode comentar sobre isso?? vi que você vai e volta diversas vezes, e tudo pode acontecer, mas, nunca é demais perguntar se você conhece mais casos como o meu, de pessoas que vão e voltam repetidas vezes em curto espaço de tempo.

    Abraços e obrigado!

  3. Só um comentário: o fato de você ter feito perguntas para o oficial e ele não ter implicado contigo já foi um bom sinal. Eles não gostam que você responda coisas a mais ou que faça perguntas. Alguns são um pouco rudes quando isso acontece e logo falam “answer what I am asking”. Tanto é assim, que os próprios EUA estão querendo treinar melhor esse pessoal.

  4. Puxa, ontem passei por este problema, moro no Mexico, sou brasileiro, com passporte americano, ja fui ao USA varias vezes. Mesmo assim foi para tal salinha…fiquei la por 5 horas…perdi, minha carona, deixou todos preocupados, por tanta demora, enfim fui liberado..tudo certo!!

  5. Thiago, to precisando de uma dica. estou indo sozinha pra lá visitar uma amiga que está legalmente estudando mestrado e morando num ap alugado e ficarei nesse ap com ela. digo na imigração que irei visita-la? dou o endereço dela? ja tenho passagem de volta, isso facilita? sei que o essencial é dizer a verdade, mas tenho receio de prejudica-la…ou isso não vai pegar nada? se for pra dar o endereço, precisa ser em algum documento oficial??

  6. Foi um sufoco né? Acho bem complicado não sentir medo numa situação dessas, mesmo não tendo feito nada de errado. Acho que todo aquele clima de tensão, talvez o medo de não conseguir entrar no país – até mesmo por causa da péssima fama que a imigração americana tem, podem contribuir pro nervosismo, e consequentemente gerar uma desconfiança por parte dos oficiais. Espero não passar por isso nunca…

  7. Olá, tenho uma duvida. o que devo levar quando eu chegar no aeroporto de miami? passagem de volta? dinheiro? eles costumam barrar? pedem pra ver algo? ou apenas agarra se verem algo diferente na bolsa?

  8. Uma amiga foi barrada na Romenia e a alegação foi que ela tinha um nome russo (Tatiana), um sobrenome alemão, passaporte brasileiro e residência na França… No Brasil isso é comum, mas aqui na Europa não se mistura muito nome e sobrenome de origens diferentes… Passaportes brasileiros são muito “visados” pelos malfeitores, dizem que valem uma fortuna no mercado negro, pois um brasileiro pode ser branco, negro, árabe ou ter olhinhos puxados. Pode ser que realmente seu sobrenome tenha chamado a atenção, sem contar o fato de viajar frequentemente aos EUA… Tem gente que viaja por motivos ilícitos, seja por muamba ou coisas piores, como envolvimento com terrorismo… Aqui na França todo mundo que viaja ao Afeganistão e Paquistão são investigados… Em um dos casos, o cara mostrou fotos e outras coisas dizendo que tinha ido de férias como turista mesmo… Mas matou 3 policiais/militares e fez cometeu um atentado em uma escola iaraelita onde 4 pessoas morreram… E depois se descobriu que ele visitou esses países “sensíveis” para ser treinado pelos terroristas…

  9. Uma amiga minha que também já foi para os Estados Unidos umas 300 vezes foi barrada no Rx, na hora do embarque, no voo de volta para o Brasil. Tinham detectado algo suspeito nela, passaram um sensor duzentas vezes, tiraram ela do lugar escoltada depois de um “follow me” e, no fim, o mais perto que ela chegou de entender o que havia acontecido foi uma suposição de que um cosmético que ela tinha usado a base de “glicerina” talvez estivesse sendo indicado como “nitroglicerina” no tal aparelho. Depois dos fiscais desistirem de descobrir o que tanto o aparelho apitava, resolveram liberá-la com essa suposição. Só sei que essas histórias me tiram totalmente a vontade de pisar lá…

  10. Thiago, meu marido fez um tratamento a base de iodo radioativo 15 dias antes de embarcarmos para os Estados Unidos. Em Miami, assim que descemos do avião, vários bipes tocaram, mas eles não sabiam de quem era, devido a quantidade de pessoas. Quando chegamos no guichê da imigração, tocou de novo e nós três (eu ele e meu filho) e nossas bagagens de mão foram submetidas a um scanner de mão. Ele mostrou o relatório médico, em inglês, sobre a radioatividade e a atendente fez várias anotações nos papéis de imigração. Pegamos a mala e fomos encaminhados para essa inspeção. No final das contas, não olharam nada. Levaram meu marido para uma outra sala e ele foi totalmente escaneado por uma máquina que detectou “iodo medicinal”. Ufa! Mais ou menos depois de uma hora fomos liberados. Claro que ficamos preocupados com o que eles poderiam pensar, inobstante estarmos munidos de vários documentos, mas, fica a dica. Tomou iodo radioativo – laudo médico hein galera!
    :-)

  11. Se te consola, eu fui parada assim no México.
    Também foi coisa do sistema aleatória. Fiquei de boa, mas na hora deu um medão porque:
    1. estava sozinha
    2. estava no México
    3. estava sozinha
    4. tinha conexão bem apertada
    5. estava sozinha

    Mas deu tudo certo, eles nem perguntaram nada, só levaram meu passaporte para uma verificação mais precisa e fim.
    =)