Washington DC, Alexandria e National Harbor

Washington DC é o ponto de partida de uma das day-trips mais interessantes que já fiz: Alexandria e National Harbor são duas cidades completamente diferentes separadas por um passeio de barco de distância. Para quem sai de Washington DC essa é uma forma mágica de conhecer dois estados americanos e um distrito federal em um único dia.

Saindo de Washington DC em direção à Alexandria

Nunca fui tão guerreiro em uma viagem com mau tempo: saí do Washington Court, minha santa dica de hospedagem em Washington DC, com casaco, sobretudo e guarda-chuva, mas dois minutos depois eu já não sabia se o que me incomodava mais era o vento ou a roupa molhada.

Só que se eu quisesse conhecer Alexandria, e um tal National Harbor da qual eu não sabia da missa o terço, minha única chance era aquela: caminhei até Union Station onde peguei a linha vermelha do metrô e segui para a estação Fort Totten. De lá segui na linha amarela durante meia-hora para a estação King St-Old Town.

E o que dizer sobre a linha amarela, que conheço tão pouco e já considero pacas? Ela passa pelo Pentágono, pelo aeroporto Ronald Reagan e pelo ó do borogodó de Alexandria, bem no comecinho da rua King – bem, anote essa dica: linha amarela, e azul, são fáceis como sentar no pudim para quem procura passeios de um dia saindo de Washington DC.

Alexandria, no estado de Virginia

Durante anos Alexandria foi parte do Distrito de Colúmbia, mas hoje Colúmbia é distrito de uma cidade só, justamente a capital do país, Washington DC: se antes Alexandria era protagonista de sua própria história, agora ela faz parte de Virginia e ganhou o status de day-trip imperdível para quem saí de DC.

E é imperdível mesmo: mesmo com o tempo torcendo contra eu aproveitei cada minuto! Alexandria é muito próxima da capital, além de ser muito prático rodar por lá: quase tudo que você precisa conhecer fica ao longo da rua King, que começa exatamente em frente a estação King St-Old Town e é servida por um Trolley gratuito e ininterrupto.

Minha dica é que você desça na sétima parada logo depois de entrar no Trolley. Esse é o ponto em frente ao City Hall, bem pertinho do Visitor Center de Alexandria onde você pode pegar mapas, receber dicas e tentar descolar algum desconto na cidade.

Bem, aqui você estará no finalzinho da King, então agora o segredo é bater perna em ambas as direções. Olha o que você vai encontrar pelo caminho:

Uma sorveteria vintage…

Um índio vintage vigiando uma lojas de roupas vintage…

Bicicletas para alugar e percorrer a King de uma forma mais dinâmica…

Uma CVS aberta 24 horas – e você sabe que uma CVS a mais nunca é demais…

Você irá encontrar todo tipo de loja pelo caminho – eu que esperava índios na entrada de lojas locais fui logo dando de cara com uma enorme Anthropologie, ao lado de uma H&M.

Os restaurantes também são incríveis: quase me baldeei para o bom e velho Nando’s, que serve galinha caipira, mas queria uma massa e escolhi o concorrente ao lado, Bertucci’s. Comi fettuccine com frango e pedacinhos do que provavelmente era calabresa por 20 dólares.

Sabe o que mais gostei em Alexandria? O que mais gostei em Alexandria foi logo o programa mais improvável da viagem: conhecer uma antiga fábrica de torpedos militares.

Juro, pode acreditar: assim que a Primeira Guerra chegou ao fim, em 1918, o governo americano começou a construir uma fábrica de torpedos em Virginia, um lugar que acabou virando uma indústria de armas de destruição em massa com foco na Segunda Guerra.

Com a paz declarada em 1945 a fábrica de torpedos acabou virando um enorme depósito bélico com pouca utilidade, mas com uma incrível localização, as margens do Potomac River.

Em 1969 a cidade de Virgina comprou o prédio onde antes funcionava a fábrica e transformou o lugar em uma coisa inédita até então: a maior coleção de estúdios de arte dos Estados Unidos.

São 82 estúdios lado a lado, seis galerias e duas escolas de artes plásticas. São tantos artistas expondo coisas incríveis que eu te sugiro caminhar sem pressa e ser sempre muito educado, assim as portas se abrem e você acabará conhecendo muito mais do que está exposto.

Quando passei por esse quadro não dei nada por ele, mas aí resolvi olhar de perto:

Sim, isso é uma Santa Ceia feita com chicletes mascados. Juro! E o mais legal: foi feito com chicletes mascados por crianças em um workshop no sábado de manhã. Essa artista plástica chama-se Lisa Schumaier, nascida e criada em Alexandria.

Olha as coisas fantásticas que ela faz:

São vários animais de papier mache em tamanho real na entrada do estúdio…

Sei que o elefante americano é bem legal, mas de acordo com ela são essas bonequinhas de papel que fazem mais sucesso por lá.

E as tampinhas também: cada tampinha dessas, que vira uma tela em branco nas mão de Lisa, custa 8 dólares.

Entre um estúdio e outro a gente sempre passa por um torpedo construído ali na década de 1920. Dizem que esse verde foi o primeiro deles, mas eu truco essa informação.

Saí da Torpedo Factory com uma chuva chata atrapalhando todos os meus planos, mas como eu estava ali resolvi pegar o ferry para uma cidade muito louca e ao mesmo tempo tão americana chamada National Harbor:

Bem, antes de continuar deixa eu dizer o quanto é fácil ir de Alexandria, no estado da Virginia, para National Harbor, no estado de Maryland.

Todas as informações que você precisa estão nessas três últimas fotos: faça chuva ou faça sol, basta sair da Torpedo Factory pela saída em frente ao rio, comprar suas passagens na casinha de telhado verde, caminhar em direção ao cais e pegar o barco em um desses horários.

National Harbor, no estado de Maryland

A primeira parada é sempre no Gaylord National, mas caso você não queira conhecer o hotel é só descer na segunda parada, o porto de National Harbor.

O megalomaníaco Gaylord National parece um shopping de longe: são mais de dois mil quartos, sendo 120 suítes, uma piscina interna, uma vila com lojas e restaurantes, e essa fachada de vidro que equivale a um prédio de 19 andares de altura:

Gaylord National é indescritível, você tem que passar por ele antes de conhecer National Harbor, até porque descer ali e não cinco minutos depois não é nenhum sacrifício.

Pode parecer caro, mas por 300 dólares você consegue um quarto duplo com vista para vila, o que não é nada tão megalomaníaco como parece. De qualquer forma o melhor de National Harbor ainda é a cidade e os arredores do porto:

Caminhando em direção ao porto. Olha o Gaylord lá no fundo!

National Harbor já foi uma enorme fazenda, mas depois de um incêndio ele ficou reduzido a praticamente nada. Quando o governo comprou aquelas terras ele começou a ganhar ares de cidade no início dos anos 2000.

Foi só terem tido a ideia de construir um porto com uma cidade ao seu redor e 2 bilhões de dólares investidos que, bum, National Harbor ganhou pinta, malemolência e gingado de cidade americana com enfoque no turismo.

Para turbinar o turismo no ano passado eles inauguraram um mega outlet, que apesar de muito próximo até pouco tempo atrás era impossível ir caminhando até ele por falta de calçada – mas quando estive lá, em novembro do ano passado, isso já estava sendo resolvido.

Esse tempinho fechado deu dó, viu…

Não demora muito e National Harbor será um super destino americano: ele ainda não explodiu, mas quando as pessoas descobrirem o quanto essa região pode gerar uma viagem incrível não vai ter para mais ninguém: a cidade é bonita, prática, tem restaurantes deliciosos, todo tipo de compra, muito entretenimento e esse lance de conhecer dois estados em um mesmo dia é quase um convite.

O que sei é que um super MGM Casino está prestes a ser inaugurado, o que vai fazer National Harbor virar habitué para quem curte UFC. Sei também que a Disney sempre flertou com a cidade, e o Cirque du Soleil deve ficar a sua tenda assim que o MGM estiver pronto.

National Harbor tem alguns eventos legais que você talvez queira encaixar em seu roteiro: em março tem Restaurant Week, com almoço e jantar por 20 e 35 dólares, respectivamente. Em maio tem Wine & Food Festival com dezenas de barraquinhas. Durante os três meses de verão eles passam filmes nesse telão:

Bem, é difícil dizer como fazer esse passeio de um dia: ou você faz como eu e toma café da manhã em Washington DC, almoça em Alexandria e janta em National Harbor, ou se hospeda em Virginia ou Maryland para passar uma noite na cidade que te parece mais interessante.

Existem algumas opções nas proximidades da King em Alexandria, que é onde você gostaria de ficar, mas os preços não são de cidade do interior, são preços de Washington DC: o Holiday Inn e o Embassy Suites me deram os melhores preços na pesquisa que fiz.

Em National Harbor vale pesquisar os preços do Gaylord National antes partir para sua segunda opção, o Residence Inn.

Eu queria mostrar o homem enterrado na prainha do porto de National Harbor, mas as fotos ficaram horríveis, mandei muito mal.

Para voltar para Washington DC é só fazer o caminho inverso: pegue o barco no porto, ou no Gaylord, e volte para Alexandria. Pegue o Trolley e volte para o início da King, para a estação de metrô por onde você chegou. Pegue a linha amarela e volte para Fort Totten, para de lá pegar a linha vermelha para Union Station.

Transforme um dia de seu roteiro em Washington DC em uma day-trip incrível pulando de um estado para outro. Seu dia vai ser incrível.