Todo marinheiro de primeira viagem está sujeito a cometer grandes mancadas durante o seu planejamento de viagem. Descobrir cidades incríveis de forma inesperada é horrível: calculamos e nos organizamos para dois dias de viagem e descobrimos que isso não é nem metade do que precisávamos!
Eu poderia ter passado uma semana na Irlanda, depois percebi que o que eu deveria ter feito era ter estudado inglês em Dublin em algum momento da vida. É tanta coisa que a gente deveria ter feito! Listas pequenas sobrevivem até o momento que começamos a pensar sobre elas.
Passeando na Guinness
Eu deveria ter conhecido melhor os irlandeses. Eu deveria ter saído com pessoais locais, ter conhecido bares mais baratos e restaurantes em que se come de segunda a sexta. Eu deveria ter me hospedado na casa de uma legítima família irlandesa, assim eu não teria feito cara de paisagem quando ouvi chamarem caixa eletrônico de buraco na parede (“there is a whole in the wall over the river”) ou dizer que um pub estava preto e não lotado (“this is the blackiest pub around”) – esses irlandeses são mesmo muito estranhos: usam “cute” como “clever”, chamam polícia de “garda” e, o mais incrível de tudo, dizem “bye” um milhão de vezes em uma sequência tão rápida que é impossível tentar contá-los.
Eu deveria ter estudado a história da Irlanda, assim eu entenderia melhor porque não se liga o ar condicionado no verão, mesmo que faça frio. Como o desenvolvimento de um povo é marcado pelos perrengues pelas quais ele passa, irlandês já não reclama da falta de sapatos: “I complained I had no shoes until I met a man who had no feet”, já dizia o ditado.
Começando o dia bem informado
Para a Irlanda ostentar hoje o sétimo maior IDH do mundo, em meados do século 19 cerca de 20% de sua população morreu, nas ruas, de fome. Durante pouco mais de cinco anos, um mix de economia, política e comida contaminada matou um número incalculável de irlandeses e fez com que um terço da população abandonasse o país. Isso tornou o povo forte, unido e, anos depois, miscigenado. Pelas ruas a gente vê inúmeras esculturas retratando o período tomado pela peste da batata.
Update: a grande fome acabou com o gingado de grande parte da Europa, mas na Irlanda parece que as coisas foram razoavelmente piores – de qualquer forma, esculturas homenageando os mortos da “great famine” podem ser vistas em vários lugares do mundo.
Eu deveria ter dado mais atenção a geografia, porque assim eu não cometeria a gafe de chamar o país de Irlanda do Sul. Irlanda são eles, se estão ao sul ou não da Irlanda do Norte são outros 500. Uhm, e eles não se bicam. A pequena Irlanda de lá é ainda menor e mais pobre, mas claro que depois da Irlanda de cá a Irlanda de lá entrou na minha lista de próximos destinos.
Muita perna, talento e Maroon 5 em Henry Street
Eu deveria ter me preparado melhor. Dublin é pequena, mas para os deslumbrados pode parecer tão grande quanto Londres. Sensação louca de estar no Reino Unido, mesmo que em 1916 eles tenham decretado a independência, um desejo que foi atendido seis anos depois. O engraçado é que rádio, cinema e TV são exatamente os mesmos ou incrivelmente parecidos. Esperei uma cidade pequena com ares de vila, como se Dublin fosse Temple Bar, mas Dublin é muito maior do que o bairro mais famoso do centro: tem ruas largas como nas grandes metrópoles, mas é segura como as cidades do interior.
Dublin entrou para o meu pool de cidades prediletas: cidades onde a gente se sente compelido a andar sem olhar o mapa. É um logo ali em cada quarteirão. É a capital da segurança pública, dos jovens, da fermentada Guinness e do destilado Jameson. É a cidade onde as tulipas parecem receber fermento e as igrejas cobram taxas abusivas de entrada. O turismo é caro, mas comer é barato. Hospedagem de qualidade e sem pagar muito por isso. Dizem que as pessoas falam irlandês entre elas, mas a sensação que tenho é que só as placas falam uma segunda linha.
Para arriscar outra língua passeando por lá eu sugiro o português, principalmente pelas ruas do centro: é o maior festival de tupiniquim por metro quadrado em um país de língua inglesa. Talvez seja culpa da bandeira com o seu laranja quase amarelo e um verde quase brasileiro.
Tenha em mente aquilo que você não abre mão de fazer, caso contrário o risco é conhecer apenas o que não foi planejado. Eu passei dois dias inteiros ali, mas poderia ter passado três para conhecer o que ficou de fora ou quatro para conhecer os Cliffs.
Não se esqueça: ao planejar uma viagem a Dublin, use mais quadradinhos do calendário quando for distribuir sua viagem pela Europa.
Algumas rapidinhas sobre Dublin
República da Irlanda (ou simplesmente Irlanda, mas nunca Irlanda do Sul!)
Capital da Irlanda: Dublin, ou Dublim, com pouco mais de 500 mil habitantes em 115 km2
De onde são os irlandeses? Depois da peste da batata a cidade se reergueu e abriu os portões para que imigrantes pudessem reconstrui-la. Grande parte dos não-nativos vieram do Reino Unido, Polônia e Lituânia, mas tem muita gente da China e também da Nigéria.
Quem são os irlandeses mais famosos do mundo? Muitos, mas os mais famosos são Colin Farrell, Oscar Wilde, Samuel Beckett e Paul David Hewson, mais conhecido como Bono.
Qual língua se fala na Irlanda? Inglês e irlandês, mas é na primeira que todo mundo se entende.
Brasileiro precisa de visto para entrar na Irlanda? Não, brasileiros não precisam de visto de turismo para permanências inferiores a três meses.
Quais são os aeroportos de Dublin? Dublin tem um aeroporto internacional que, com seus 60 mil passageiros por dia, entrou na lista dos dez mais movimentados da Europa. Se você não está de carro, minha dica para sair e chegar do aeroporto é o ônibus.
É possível chegar em Dublin de trem? Sim, mas geralmente quando Dublin passa pelo roteiro as pessoas já estão fazendo trechos de avião (estamos falando de uma ilha, não se esqueça!). Dublin tem duas grandes estações, Connolly Station e Heuston Station, mas quem faz aquelas viagens embasbacadoras pela costa é esse pessoal aqui.
Shutter disparado na O’Conell Street
Como chegar em Dublin de barco? Muita gente vem do Reino Unido fazendo a dobradinha trem e ferry, mas é gente que tem tempo: uma viagem pode durar um dia inteiro, 24 horas contadas no relógio.
Como funciona o transporte público em Dublin? Existem linhas de ônibus, mas eu só usei a que faz o trajeto em direção ao aeroporto. Para linhas de bonde, ônibus municipais e ônibus turísticos, que podem ser uma mão na roda para quem tem pouco tempo na cidade, clique aqui. Vale dizer que tendo se hospedado em Temple Bar o blogueiro fez absolutamente tudo caminhando.
Como é o clima em Dublin? Os meses mais quentes são junho, julho e agosto, enquanto dezembro, janeiro e fevereiro são os mais frios. Na real? Dublin é uma loucura, você pode passar por todas as estações em um único dia, mas geralmente sem nenhuma experiência extrema. Chuvas são incrivelmente comuns, mas impressionantemente os meses com menos dias de chuva são os meses de verão.
Qual a moeda de Dublin? Euro, eles não aceitam libras. Você pode trocar seu dinheiro em casas de câmbio nos portos de entrada do país.
O que Dublin tem de mais famoso? Bem, isso a gente deixa para quando pintar aqui.
Quais os feriados nacionais de Dublin? 25 e 26 de dezembro, 17 de março, segunda-feira após o domingo de Páscoa, primeiras segundas-feiras de maio, junho e agosto e última segunda-feira de outubro, mas isso não interfere nos planos do turista comum, a maior parte das atrações continuam abertas.
Qual o horário de funcionamento do comércio em Dublin? Lojas abrem às 9:00 e fecham às 18:00, sendo que nos domingos elas abrem ao meio-dia e nas quintas elas fecham um pouco mais tarde.
E que comece nossa caçada pelos leprechauns! :)
Outras dicas do blog para programar a sua viagem:
Já sabe onde ficar em Dublin? Já fiquei no Jurys Inn e recomendo - é simples, mas é barato e bem localizado. Procure também outras opções em Temple Bar, o bairro boêmio que é ótimo para quem está com amigos.
Já contratou seguro de viagem? Para entrar na Europa é obrigatório apresentar um seguro, principalmente em tempos de Covid! O comparador Seguros Promo oferece pelo menos 10% de desconto para leitores do blog e ainda parcela no cartão!
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A irlanda é apaixonante e acolhedora. Dublin é uma cidade que conquista e surpreende. Morei la três anos e digo que tanto o País como o povo tem muito pra ensinar e oferecer (simplicidade, simpatia, ótimas bebidas, muitos parques, tons de verde e lindas praias, rica em música e tantas outras coisas…).
Um lugar pra ficar, ficar e ficar…e quando partir levar no coração.
Slainte!
Thiago,
Sempre acesso seu blog e gostaria de parabeniza-lo, excelentes textos, dicas, “casos”, um sucesso!
Muito bom poder passear por um blog tão bem escrito!
Um grande beijo
Adorei seu texto… uma delicia de ler e deu uma vontade louca de conhecer a Irlanda, que desde 2008, quando furou nossa viagem, não sai da nossa cabeça!
Ei Mirella, obrigado pela presença aqui no blog! Eu já estou na expectativa de estender minha próxima viagem para as Irlandas mais uma vez.
Curti demais o post! Sensacional! To morrendo de vontade de marcar Dublin como proxima viagem! Parabens! Abraço
Obrigado xará, depois volte para dizer o que achou ;)
Ótimo texto! Lendo as suas impressões sobre a cidade de Dublin me deu vontade de voltar para lá o mais rápido possível. Ricardo.
Que ótimo Ricardo, obrigado :D